Thursday, May 22, 2008

Cara por Celi M.

Hoje, toda eu toda de negro

Toda eu cravada de medo

Lábios selados em segredo

Tão escura, já não me alegro

As mãos morrem-me cedo

Esqueci já o meu enredo

O coração já não é íntegro


Largo o choro preto no chão

Lágrimas secas de um fado

História de um peito pesado

Viúva do meu próprio coração

Prisioneira do meu passado

Presa no meu olhar calado

Aprisionada numa má canção


E toda a dor da tua partida

Me traz de ti a lembrança

Consome-me a esperança

Esventra de mim toda a vida

Tudo é uma eterna dança

Até o respirar me cansa

E toda eu sou uma ferida


Fugiste mas ficas em mim

Cravas nesta pele a tua voz

Trazes a recordação de nós

Queimas-me o nosso fim

Deixas-me os braços a sós

Amarras em mim os teus nós

E eu nunca te disse um sim


A minha cara negra de ti

A minha cara negra do mundo

Gravado nesta cara bem fundo

Sem que eu deixe ficas aqui

Tu e esse teu sorriso imundo

Que se transforma num segundo

Gritando-me que morri


O meu olhar escuro

A minha face preta

O andar inseguro


Desprovida

De vida



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