Monday, April 21, 2008

Viagem por Ana Margarida Ferreira

Viajo por aqui e por ali sem rumo e sem saber por onde ando e até onde vou. Por vezes chego bem lá acima e cheiro as estrelas, outras vezes toco ao de leve no rio com as pontas dos meus dedos. Viajo com as asas que me nascem das omoplatas, asas de luz e de sonhos. Ou então passo o dedo indicador pelos mapas de todo o mundo, corro estradas, vales e montanhas, e até sinto o cheiro que me trazem as fadas na sua varinha de condão. Viajo pelas fotografias de lugares longínquos e secretos, imagino por trás dos olhos, os mistérios que por lá se encerram. Viajo pelas histórias que me trazem os livros, histórias velhas, poeirentas, histórias novas refrescantes, por lá caminho com eles, sempre encerrados entre as pesadas capas que lhes limitam a liberdade. Por vezes apenas caminho, pés descalços afundados na erva, gotas de orvalho deslizam suavemente pelo tornozelo, o rio espreguiça-se a meu lado no seu leito e eu apenas caminho. Rodopio no meio dos campos de milho e vejo o céu estontear-me e rodar rodar rodar rodar r-o-d-a-r roooodaaaar até que caio no chão, a rir à gargalhada, com os olhos presos no imenso azul acima de mim. Viajo desde esta cama branca onde a vida tão cruelmente me prendeu no momento em que todos os meus sonhos se espalharam mortos no chão. E caio caio caio no meu desespero de vida roubada de sonhos traídos de morte anunciada. Caio nesse abismo abismo escuro e negro de morte caio caio e sonho não mais acordar. E então tu chegas. E contigo chega a luz presa nesses olhos verdes de vida e nas faces rubras de alegria. Chegas e enches o ar de gargalhadas de criança, sobes para o meu colo, sentas-te a meu lado e falas. E eu viajo contigo.


So I say run, run, my sparkling light,
Have your fun and then come home at night,
I’m sure you’ll tell me something new,
Yeah I can see the world through you.


David Fonseca



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