Vou. Parto sem olhar para trás.
Isto que o espelho mostra não é o meu reflexo.
As máscaras acumulam-se.
Gosto de pensar que dentro de mim há algo mais à minha espera. Alguém melhor que a máscara.
Empresto-me a mim. Converso comigo. A máscara do Eu e o Eu, frente a frente.
Mostro-me a mim. Sou bonita. Feia, marcada, esquartejada pela realidade, mas bonita.
A princípio mostro-me a medo, distorcida quase. Mas reconheço-me. Sou eu!
O peso da máscara bonita (mas bonita) cai, para dar lugar ao peso do Eu feio (mas bonito).
Isto que sou agrada-me. Gostava de ver-me mais vezes.
Nem hesito na certeza de que a máscara de todos os dias deve cair.
Tomo providências. Pego nas máscaras. Desconstruo-as. Destruo-as.
Rio alto. Deixo o Eu real, doído, revelar-se.
Insulto, repudio, rio com desdém da máscara bonita que enterrei.
O funeral. Faço-lhe o luto. Cumpro os rituais.
Rio alto. Sou eu aqui. Alcancei-me e estou feliz, a rir, no funeral da máscara morta.
Depus a máscara.
Entrego-me a mim. Agora posso entregar-me a mim. Leve.
Máscaras, que surgem do nada e do tudo, sempre. São imortais.
Importa-me o tempo. Gostava de poder matá-lo para me aproveitar de todo o tempo morto do mundo para enterrar as máscaras que surgem incessantes.
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