Entre nós há uma distância de dois dedos. Não é uma quebra de harmonia: é simplesmente o espaço que os nossos olhos exigem para se encontrarem e transmitirem entre si raios de lua. Sou pescada. Raptas-me de buga e roubas-me o tempo que o relógio tanto se esforça por impor. Grito que não posso, que nem umas sapatilhas tenho calçadas. Não queres saber. E, apesar dos gritos, a minha revolta não é verdadeira, pelo que me deixo ir, de cabelo ao vento e coração de chocolate. A meio da viagem levo a garrafa de água à boca e percebo o que realmente quero. Quero trocar a mesa onde entretanto me sentei pelo teu colo. Importas-te? Garantes que não e partilhamos a sandes amachucada e barata de um bar de beira da estrada, enquanto o Sol nos adorna o horizonte.
É a minha vez de guiar. Segura-te bem. Rabisco na estrada. Traço uma linha torta com os pneus, curva. Oh sim! A vida não é linear, sabias? A maior parte está na sola dos sapatos, no subsolo de nós. E, com o arrastar de pés e emoções, desgasta-se. A vida e o sentimento que constrói um pilar entre nós e o resto do Mundo. Gosto de contos de fadas. E vejo um no teu sereno respirar de fim de tarde. Amarro-te com um velho xaile de fadista e pergunto, com voz segura:
" - O menino dança ou é daqueles que faz fita?"
Lá, lá, lá. Olhar e ver. Querer e ter. Ser e não ser, sorrir e não poder. QUERO! Tenho, posso e mando. Somos finos. Trocamos a sandes por lagosta e vinho verde, pomos os restos mortais da hipocrisia dentro de um saco do lixo e misturamo-nos com a multidão da cidade. Afinal, apesar de gente requintada, não somos mais do que eles. Nem temos pretensões disso. Certo? Acenas com a cabeça e sorris. Vá, vamos andando. Já não temos mais o que fazer aqui e o Mundo é grande o suficiente para podermos evitar o tédio.
I don't care. You don't care. But we both know the sunset only lasts very few seconds.
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