Fomos dirigidos com algemas ao longo
dum soturno e invernal corredor na cave.
Disseram-nos em silêncio que iriam
ensinar-nos a ser homens duros, adultos.
As paredes pareciam que nos avisavam
do que se avizinhava –não se deixem
arrastar até lá ou nunca mais voltarão –
ciciavam as cobras e baratas que
reluziam entre a pluviosidade dum
prólogo que isolaria o girassol dos
espinheiros em flôr pela animosidade.
Tínhamos 14 anos e acreditávamos
que juntos aguentaríamos outra sova.
Mas não era disso que se tratava –
era cobardia entesada de bebâdos
guardas sádicos no refeitório do
reformatório – a seguir a essa digestão
fomos violados sempre com cassetetes
pela epidural afundo, enquanto íamos
repetindo o Pai-D’alguém, com as mãos
sobre chicórias escabiosas falavam-nos
da nossa mãe – imagina se Ela te visse
agora com a boca cheia de esperma –
mas já só vingança seria sinónimo de
sorriso para os Condes de Monte Cristo.
João Meirinhoslink
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