Friday, March 21, 2008

Sleepers por João Meirinhos

Fomos dirigidos com algemas ao longo

dum soturno e invernal corredor na cave.

Disseram-nos em silêncio que iriam

ensinar-nos a ser homens duros, adultos.

As paredes pareciam que nos avisavam

do que se avizinhava –não se deixem

arrastar até lá ou nunca mais voltarão –

ciciavam as cobras e baratas que

reluziam entre a pluviosidade dum

prólogo que isolaria o girassol dos

espinheiros em flôr pela animosidade.

Tínhamos 14 anos e acreditávamos

que juntos aguentaríamos outra sova.

Mas não era disso que se tratava –

era cobardia entesada de bebâdos

guardas sádicos no refeitório do

reformatório – a seguir a essa digestão

fomos violados sempre com cassetetes

pela epidural afundo, enquanto íamos

repetindo o Pai-D’alguém, com as mãos

sobre chicórias escabiosas falavam-nos

da nossa mãe – imagina se Ela te visse

agora com a boca cheia de esperma –

mas já só vingança seria sinónimo de

sorriso para os Condes de Monte Cristo.

João Meirinhos
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