Um dia acordamos e sentimos um impulso terrível. Uma sensação de dever incumprido, um aperto, uma força interior. Se não a seguirmos consome-nos. Se formos atrás dela corremos riscos enormes. Sim, é este o problema. O risco. Não há quem lide bem com ele e apenas só uma vez por outra se encontra alguém que saiba como contornar esse medo.
Se o risco não existisse não haveria heróis, os valentes seriam como qualquer outro; não existiria fantasia e os sonhos seriam fuligem pousada em mobiliário antigo.
Tenho uma amiga que deixou de falar comigo durante um certo tempo. Pensei que a memória dela não fosse perfeita, como nenhuma é, e acabei por aceitar que era ocupada de mais para me falar. Certo dia, confessou porquê. Por entre problemas, tinha conhecido o homem da sua vida e vai casar e viver com ele fora do país. Desde o final do ano passado até agora, o seu sonho tornou-se o seu farol e, numa atitude que muitos tomariam como inconsciente, aceitou mudar a sua vida.
Embora esta história tenha um tom um tanto ou quanto semelhante aos livros de auto-ajuda tem uma diferença: é verdade. E é assim que todos devíamos ser. Implacáveis quanto àquilo que amamos. Recusarmo-nos a entrar na fila indiana, no rebanho, preferir o carrossel alucinante de uma escolha desmesuradamente recheada de novidade e risco. Abater o medo com uma espingarda de sorte e jogar connosco, confiando-nos a nós próprios.
Abrirmos as asas não é difícil. Difícil é deixá-las bater por si só, como fazem os pássaros, desviando-nos de correntes adversas quase instintivamente e apoiando-nos em poços de ar quente para subir, poupando energia para as lufadas contrárias ou as tempestades de chuva.
É tão-somente ouvir o que vai dentro de nós. Quem nunca pôs um búzio na orelha? Hoje, o búzio somos nós. Ouvimos hoje o que o nosso búzio diz. Amanhã partimos.
Fernando Miguel Santos (Autor de Aldeia de Luz)
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1 comments:
há opções na vida que alteram o final das historias. Por isso considero que existam catalizadores que antecipam certos acontecimentos e que por vezes são erros. Não obstante ao conceito felicidade, considero um erro imperdoável, abdicar de nos mesmos. e de que é que nos somos feitos?? sremos apenas materia organica, ou o nosso corpo será o esqueleto de tudo o que nos envolve e nos faz?
para mim o eu, como pessoa singular, existe apenas em decisões que possam envolver "partes de mim". tudo o que me rodeia faz de mim o que sou, a familia, os amigos, a musica que ouço, o meu trabalho etc... toda e qualquer decisão que eu tome não pode implicar uma rotura com qualquer um destes elementos, signficaria perder um pedaço de nós. acredito que posso correr riscos sem arriscar e obter disso perdas em vez de adrenalina... eu não tenho medo de abrir as asas e muito menos não que elas batam por si só, se tudo o que me move e faz parte de mim assistir ao meu "lançamento"...
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