Monday, June 23, 2008

Vício de Ti por Ana Margarida Ferreira

Anda cá! Deixa-me ver-te e cheirar-te mais uma vez. Deixa a tua mão entrelaçar-se na minha como outrora. (Já não sei onde deixar as mãos agora). Não vás, por favor, fica comigo. Fica comigo que estou sedenta de beijos e de mimo. Teus. Deixa os teus olhos perder-se nos meus, deixa-os mergulhar profundamente em mim, não sonhas como isso me preenche e me sacia a alma e o ser. Fica só desta vez. Prometo que to não volto a pedir, já que sei que tens de partir e que meu já não és mais. Toca-me com a ponta dos dedos e sente a minha pele a arrepiar-se de prazer. Enterra o teu rosto no meu peito e deixa-me
assim
m o r r e r
Não. Por favor, não me deixes hoje, não me deixes hoje outra vez, não o suporto, não me rejeites, não me abandones. Nós podemos voltar a ser um, nós podemos ser felizes, eu sei, eu sei, por favor, tu sabes que sim, que podemos, por favor não me deixes, não me deixes ficar
aqui
s o z i n h a
por favor
Ouve-me, ouve-me apenas, eu preciso de ti para viver, entendes? Eu preciso, eu não queria precisar, eu tentei a sério que sim, mas não consegui, eu preciso de ti e se tu me deixas
eu
m o r r o
tens de ficar, só hoje, só hoje, eu vou ser forte e eu depois consigo, eu consigo, mas fica, só hoje, por favor
fica
c o m i g o.
Não! Não me vires as costas, não não vás NÃO por favor, não vás não me deixes ficar aqui sozinha, fica comigo, fica, fica
Não me deixes
por
f a v o r

Caminhou lentamente pela estrada envergando apenas uma camisa larga e comprida que não lhe pertencia mas que tinha o cheiro que ela não queria perder. Entalado nos dedos um cigarro que lhe inebriava os sentidos e lhe preenchia o vazio que era o seu ser. Sentou-se no gradeamento e contemplou o azul negro que se espraiava lá no fundo. Trauteava baixinho um refrão, sempre o mesmo sem parar. Deu a última passa no cigarro e soltou a beata no ar. Na mão esquerda uma fotografia. Olhou-a, deu-lhe um longo beijo e sussurrou-lhe “agora não preciso mais”. Apertou-a contra o peito e deixou-se tombar.

“Não me esqueci, não antevi, não adormeci o meu vício de ti”
Mesa

[link]

0 comments: