Thursday, February 21, 2008

Serás por João Meirinhos

Serás espasmo sem nada em comum?
Vais-me enganar com o primeiro beijo?
Teu batôn segrega sina aflitiva
e, como sonâmbulo na penumbra,
desembocarei nele porque é fado,
não protestarei a perfeição que vos abala
neste pôr-do-sol a dobrar revejo-nos
em todas as historietas que recontas portanto,
deixo dissolver-se esta atribulante paisagem
e estendo-me ao comprido no lixo do Adamastor,
esperando amável a purificação que escolheu
aceitar acariciar o áspero que raramente adoça.

Têm veneno teus lábios,
pois junto-me ao curriculum de ilusões
como autocolantes colecionados numa carcaça,
não posso começar sem ser autêntico
só para abalar o caule desta espécie de flôr,
reformada sua floresta emaranhada,
posso seguir conselhos d’albatrozes da noite
e utilizar a comoção como roleta-russa,
vezes e vezes sem conta que sorri sem querer
apercebo-me da conclusão simples que reflecti.
Será agora a revelação assombrada que receio?
Vais-me entediar com catarata de caibrãs caducadas?

Por um lado emanas a perplexidade da pena
de seres mais experiente e nunca teres amadurecido,
consigo ler as desilusões d’ingenuidade ou
serão já padrões desfocados a quem te rebaixas?
Inexprimes-te demasiado bem como se
fosse impossível insultar-te e desapareceres a correr,
espanta-me só a proximidade folclórica, tão inóspida,
entre a escória refrigerada e a traça da ginástica!

João Meirinhos, in Trepidação/trepanação (ou a ausência de evolução), 2004
[email] [link]

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